Amado Batista o Cantador de Histórias
A prisão
Em 1972, época da ditadura militar, o general Emílio Garrastazu Médici era o presidente, eleito pela Junta Militar. Seu governo ficou conhecido como " anos de chumbo", por ter sido o mais árduo e repressivo da história brasileira.
Na ocasião, a política da censura estava em evidência e os veículos de comunicação sofriam. Dezenas de professores, políticos, músicos, artistas e escritores foram investigados, presos, torturados ou exilados.
Amado ainda trabalhava na livraria, vendia livros proibidos, como mãe, de Máximo Gorki. A Rússia comunista era visada e tudo que vinha de lá era censurado. Mas Amado, em sua ingenuidade, não sabia dessa proibição.
Bastante movimentada, a livraria Oió rendeu a Amado muitos "amigos" comunistas, que queriam mudar o país à força, com ataques a quartéis, usando arma de fogo. Mergulhado em sua inocência, o cantor - que então apenas ostentava o sonho de sê-lo - em nenhum momento suspeito que esse amigos tinham como projeto transformar o país aos trancos e barrancos, Mas eles, sim, sabiam muito bem que estavam sendo investigados pela Polícia Federal e que, se fossem pegos, estariam em maus lençóis.
Pedro - a pedido de Amado Batista, utilizei nome fictício - era comunista, professor do Estado e sabia que estava prestes a ser descoberto. Então pediu um favor para Amado, que não suspeitou de nada. O comunista entregou-lhe uma procuração dando-lhe plenos poderes de receber o seu salário.
Com a procuração em mãos, Amado recebia o ordenado de Pedro e o repassava. Pronto! Foi a deixa perfeita para também ser investigado como um deles.
- Foi aí que eu me compliquei - disse Amado, cerrando os dentes e com a expressão de quem tomou uma má decisão.
Foi preso por engano. Nada tinha a ver com os comunistas. Por dois meses, Amado ficou recluso do mundo, em poder da Polícia Federal.
- Sofri tortura física e psicológica.
Socos, chutes, tapas, Amado apanhou muito.
Muitas vezes os policiais colocavam um capuz preto em sua cabeça e o levavam para um local totalmente silencioso. Sem enxergar nada, Amado ficava tenso e com medo do que poderiam fazer. Passava de tudo por sua cabeça. De repente, só escutava um " plaft!" , um policial batia na mesa para que ele se assustasse.
O coração disparava. O medo era maior que a revolta.
Os prisioneiros eram diversão para os policiais, que os pegavam rispidamente e os arrastavam dizendo que seriam jogados na piscina ou em rio com uma corda amarrada ao pescoço.
- E você não vendo nada, imagina?! Nossa senhora. É uma tortura psicológica danada.
E aí vinham:
- Ei, acorda! Levanta que nós vamos te matar agora. Vira de costas.
E Amado, amedrontado, virava de costas e fechava os olhos, imaginando que a qualquer momento levaria um tiro e morreria.
Foram meses difíceis. Chegaram a colocar brinco de pressão na orelha dele e o metralhavam de perguntas.
À medida que ele ia respondendo, os policias "zap!" ligavam o aparelho de choque para que ele se cortasse todo e mordesse a língua. Era sangue para todo lado.
Dois meses de reclusão, tortura e sofrimento. Um mês sendo torturado e outro se recuperando, para que ninguém suspeitasse de tais torturas.
Bastaram sessenta dias para que dentro de Amado crescesse uma mistura de fúria e revolta. Estava inconformado por ter sido preso sem motivo, sem culpa.
- Eu saí querendo matar todo mundo - diz o cantor com expressão de fúria.
Foi humilhado injustamente.
- Ele ficou traumatizado na época. Saiu de lá pensando em suicídio, mas logo depois superou - relembrou Reginaldo Sodré.